terça-feira, 2 de março de 2010


Quase um poema de amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor.

E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!

A nossa natureza

Lusitana

Tem essa humana

Graça

Feiticeira

De tornar de cristal

A mais sentimental

E baça

Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo

E ninguém me deseje apaixonado,

Ou que a antiga paixão

Me mantenha calado

O coração

Num intimo pudor,

- Há muito tempo já que não escrevo um poema

De amor.

Coimbra, 7 de Fevereiro de 1950

Miguel Torga,


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