sábado, 12 de novembro de 2016

Judite Sousa escreve sobre Leonard Cohen, que morreu esta semana aos 82 anos

Morremos porque nascemos. Na essência, esta afirmação traduz o percurso de uma vida, qualquer que seja o tempo que ela dure. Mas talvez a pergunta mais simples e, simultaneamente, mais desafiante seja esta: porque é que vivemos ? E talvez a resposta seja tão simples: vivemos para estarmos com os outros e para que eles guardem algo de nós.
Na voz íntima de Leonard Cohen, ele passou-nos o turbilhão de emoções em que vivemos. Cantava com uma sensibilidade que arrebatava corações estilhaçados.
É disso que se trata: alguém entra em nós para deixar uma marca tão profunda que nos faz sentir o que o outro sente, que nos faz sorrir e sofrer, acreditar e renunciar.
Cohen cantava a vida, depois de um trajecto como poeta, romancista e compositor. As palavras saíam-lhe como um sussurro como falam os amantes, sempre que estão inebriados com a magia da paixão.
No filme “Casablanca“ é contada uma história que não sobrevive aos caminhos erráticos de um grande amor. Rick e Ilsa amam-se até ao limite das suas forças. Foi em Paris, mas que interessa ? Poderia ter sido no delta do rio das pérolas. Há grandes amores que morrem porque nasceram aprisionados em circunstâncias que a razão não explica.  Olhares. Gestos. Silêncios. Se o coração pensasse, pararia, disse-o Leonardo da Vinci. E provavelmente assim os amores impossíveis passassem a ser possíveis.
Leonard Cohen iluminou o trânsito emocional dos desorientados. Por isso é que hoje, no dia da sua morte, o recordamos com ternura. E o carinho com que o lembramos, faz-nos pensar que o coração guarda tudo, mesmo o que, um dia, deixámos partir.


 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

FILHO PREDILETO
Certa vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido,
aquele que ela mais amava.
E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu:
"Nada é mais volúvel que um coração de mãe.
E, como mãe, lhe respondo: o filho predileto,
aquele a quem me dedico de corpo e alma...
É o meu filho doente, até que sare.
O que partiu, até que volte.
O que está cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que está com sede, até que beba.
O que estuda, até que aprenda.
O que está com frio, até que se agasalhe.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que se cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que cale.
E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que já me deixou...
...até que o reencontre...
(Erma Bombeck)