sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago morreu aos 87 anos

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.

José Saramago

Um comentário:

Henrique Mário Soares disse...

Este grande homem foi cobardemente julgado neste país, por um poder bacoco, servil e corrupto, só porque pensava de maneira diferente ao poder instituido.
Devagar, devagarinho, eles vão-nos condicionando as liberdades e as minhas vivências o que me dizem é que ninguêm quer saber. Por vezes sinto-me cansado de sermos sempre os mesmos a lutar, e apetece-me desistir, depois recordo os meus falecidos país, os momentos pós 25 da Abril, o PREC, as idas para o Alentejo e os trabalhos nas cooperativas de produção e dá-me ganas de não desitir.
Muito cedo lí os livros do camarada Saramago e admiro a sua obra.
Este país da actualidade não merecia este homem, mas talvezx um dia façámos uma verdadeira homenagem como ele merecia.
Até amanhã camarada.

No funeral eram poucos mas bons, só a distância fez com que eu não estive-se presente.