sábado, 30 de janeiro de 2010

Projecto contra a pobreza no Bangladesh valeu a portuguesa prémio de Mulher do Ano

Um programa desenvolvido para quebrar o ciclo de pobreza de crianças e familiares nos bairros de lata na região de Dhaka, no Bangladesh, valeu a Maria da Conceição o prémio «Mulher do Ano», atribuído ontem pela revista Emirates Woman (Mulher dos Emirados). Aos 32 anos, a comissária de bordo portuguesa foi a vencedora do título entre 19 finalistas, tendo também vencido na categoria em que concorria (Humanitária).


A morar há seis anos no Dubai, Maria da Conceição criou em Julho de 2005 o Projecto Dhaka, uma organização sem fins lucrativos que desenvolve actividades no sentido de “transmitir aptidões aos adultos enquanto tira as crianças das ruas e das fábricas de têxteis para lhes dar educação escolar a tempo inteiro”, como explica no texto de apresentação do pograma.

Maria Conceição teve de ficar 24 horas no Bangladesh, numa viagem de trabalho que fez para Dhaka. Foi assim que conheceu uma realidade que a chocou muito. "Decidi aventurar-me e perguntei o que havia para visitar em Bangladesh. O senhor do hotel disse-me que eu era um bocado ingénua porque não havia nada para fazer, só havia orfanatos. Então, como nunca tinha estado num orfanato, decidi ir visitar o da Mãe Teresa que tratava e acolhia crianças deficientes e também pessoas idosas", contou Maria Conceição à Agência Lusa.

Nessa visita, foi convidada por duas freiras para conhecer uma menina de 16 anos que tinha tido gémeos e que estava muito doente no hospital. Aceitou o convite e diz que "foi um grande choque" quando entrou no hospital.

A portuguesa decidiu "não virar as costas" àquela realidade e regressou um mês depois. Tirou 12 dias de férias na companhia aérea Emirates Airlines, onde trabalha, para ir para Dhaka "ajudar a melhorar a higiene" dos hospitais. "Fui perguntar aos hospitais se eles estavam interessados em (que eu os ajudasse) a melhorar a higiene e eles disseram, muito malcriados, para me ir embora e voltar para o meu país porque os hospitais estavam limpos", recorda.

Decidiu então trabalhar no sentido de tirar das ruas, as crianças que andavam a pedir e a vender bombons, e que viviam em bairros de lata sem condições. Abriu uma escola que se desenvolveu, sendo constituída por uma creche, uma pré-escola, uma escola primária, uma escola secundária e temos um pequeno centro dentário. O projecto Dhaka começou com 39 crianças e agora dá casa, comida, roupa e educação a 600 meninos e meninas da região.

Maria da Conceição percebeu que não bastava ajudar as crianças a sair da pobreza porque elas acabam por voltar para as fábricas, caso os pais ficassem desempregados ou adoecessem. Por isso, diz que o objectivo agora é encontrar "trabalhos bons" para os pais das crianças que andam nas ruas porque essa é a "única maneira de quebrar esse ciclo".

Maria Conceição não esconde que treinar os pais é "um trabalho muito longo e cansativo" mas é aí que o problema pode ser resolvido. Por isso, a portuguesa, que continua a trabalhar como comissária de bordo, decidiu abrir um outro projecto que "só se dedica aos pais".

"É pequenino. Temos, de momento, 61 ou 62 pais. Estamos a dar treino escrito em inglês e estou a tentar pedir à Emirates (companhia aérea) e a outras companhias aqui no Dubai para empregar os pais dos meninos porque isso significa que depois os meus meninos podem estar na escola até aos 18 e seguir uma formação sem interrupções", explicou à Lusa.

Maria Conceição não sabe se esta distinção se traduz em algum prémio monetário mas diz que a visibilidade que trouxe ao seu projecto já valeu a pena: várias empresas e particulares ofereceram donativos. No Bangladesh, a sua missão só vai acabar "quando os pais dos meninos tiverem um bom trabalho" porque só assim é que as crianças conseguem fazer a sua formação completa e quebrar o "ciclo de pobreza".

Quando pensa no futuro, Maria Conceição, natural de Vila Franca de Xira, diz que o seu sonho é "abrir um orfanato no Brasil" para trabalhar com as crianças das favelas.


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