quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010



Álvaro de Campos

Saí do comboio,

Saí do comboio,

Disse adeus ao companheiro de viagem

Tínhamos estado dezoito horas juntos..

A conversa agradável

A fraternidade da viagem.

Tive pena de sair do comboio, de o deixar.

Amigo casual cujo nome nunca soube.

Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas...

Toda despedida é uma morte...

Sim toda despedida é uma morte.

Nós no comboio a que chamamos a vida

Somos todos casuais uns para os outros,

E temos todos pena quando por fim desembarcamos.

Tudo que é humano me comove porque sou homem.

Tudo me comove porque tenho,

Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,

Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.

A criada que saiu com pena

A chorar de saudade

Da casa onde a não tratavam muito bem...

Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo.

Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.

E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.

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