sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Violência Doméstica - Testemunho

Sofia (nome fictício) passou por uma experiência marcante, durante um ano. Não consegue ainda hoje, compreender como caiu na teia daquele homem. Ao princípio quando o conheceu na empresa onde trabalhava, nunca podia imaginar que a sua vida, se iria tornar num inferno!
Ela era Assistente Administrativa e ele passava muitas vezes por perto, quando ia ao departamento de logística. Sorria com aquele sorriso, que a desarmava por completo e os seus olhos azuis brilhavam quando encaravam os de Sofia.
Estes olhares e contactos foram sucedendo atrás uns dos outros, até que um convite para café surgiu. Parecia ser o homem mais doce que tinha conhecido até aquela altura. Estava sozinha há três anos e tal e nunca mais tinha despertado para nenhuma paixão.
Em poucos dias já estavam a viver juntos. Deixara a sua casa, os seus planos de viver com os pais, pois estavam a ver de casa, para que quando quisessem vir do Alentejo, ficariam com ela. Vendeu e deu algumas coisas que tinha e juntou-se a ele. Vivia com ele e duas filhas adolescentes.
Entregou-se de corpo e alma a uma vida que não era a sua. A ânsia de ter uma família fazia-a crer que podia ser feliz!
Poucos dias depois de estarem a viver juntos, António começou a demonstrar que era machista. Controlava-lhe as conversas com os familiares e amigos e não podia sequer atrasar-se do trabalho para casa, que para ele já ficara na conversa com alguém.
Ao princípio, Sofia até achava graça á perseguição, pensava que os ciúmes que ele demonstrava, era sinal que a amava. Mas com o tempo percebeu que eram doentios.
A vida tornou-se insuportável. Trabalhava fora e em casa. Ninguém ajudava. Sentia-se uma “lavadeira”. Ele nunca lhe dava valor e não percebia aquilo que ela fazia de bem a ele e às suas filhas. Constantemente chegava a casa mal disposto com o trabalho, adormecia no sofá e bastava Sofia tentar acordá-lo para ir dormir, arranjava maneira de criar uma briga, chamava-lhe todos os nomes a ela e à família. Se Sofia não o acordasse, era o mesmo. As agressões eram verbais e psicológicas. Desde lhe dizer que era mal comportada, que não valia nada até que era falsa e que não merecia nada. As físicas eram bofetadas no rosto, murros na cabeça e puxões no cabelo!
Esta mulher refugiava-se no seu cão, o seu mais que tudo, que várias vezes se escondia debaixo da cama, pois ele tentava fazer-lhe mal e o bicho com medo fugia.
Sofia saiu várias vezes e voltou várias vezes. Não compreende tamanha burrice. Dava-lhe sempre a oportunidade, pois queria acreditar na constituição da família. Uma imensidão de amigos e familiares ajudaram-na, sempre que queria sair, mas como voltava, deixou de ser ajudada e ninguém acreditava em si.
Ficou então prisioneira de uma casa e de um homem que lhe cortava as pernas e a deixava sem meios para nada!
Perdeu o seu trabalho, ficou dependente dele para tudo e sem dinheiro para nada. Não a deixava procurar trabalho e se tinha alguma entrevista havia discussão.
E o tempo foi passando, as hipóteses de sair esgotaram-se. Não via uma porta aberta. Não tinha esperanças de nada. Aquele homem era um falso e só se preocupava com ele próprio. Quem o ouvisse falar, ele era a vitima e não tinha sorte com a as mulheres, até chorava, mas eram lágrimas de crocodilo!…
Um dia em esperar, abriu-se uma pequena janela e fugiu… Agarrou em meia dúzias de coisas e no seu “quatro patas” e rumou até à liberdade!
Ao fim de 2 meses de estar longe e escondida, sente uma Paz imensa e apesar de recomeçar de novo, do zero, acredita que vai superar!
Mudou de zona, mudou o seu número de telefone.
Sofia quer apagar para sempre aqueles tempos e hoje sabe que poderá ser feliz de novo, pois nem todos os homens são como António.

Maria José Ludovino
14 de Março de 2008

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